Pint of Science 2025: boteco salva – onde a ciência ainda tem voz

Este artigo apresenta o Pint of Science, festival internacional que leva a ciência para bares e outros espaços informais, que ocorrerá de 19 a 21 de maio.

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Vivemos tempos curiosos. A Terra continua girando, os vírus seguem se adaptando, o planeta esquenta — mas tem gente que insiste em achar que ciência é mera opinião. Nesse cenário de desconfiança e desinformação, surge um respiro: o Pint of Science Brasil 2025, que ocorrerá nas noites de 19, 20 e 21 de maio em nada menos que 169 cidades brasileiras.

A proposta é simples: tirar os cientistas dos laboratórios e levá-los para os bares. Porque, convenhamos, hoje talvez seja mais fácil ouvir sobre física quântica tomando um chope do que em uma sala de aula. No meio de tanta transmissão (“live”) rasa, tanto tutorial mágico e tanta “verdade revelada” por “especialistas” de ocasião, a ciência ainda resiste, tenta ser ouvida – e encontra eco num balcão de bar.

Aliás, o nome do evento é um trocadilho que já diz tudo: “Pint of Science” significa, literalmente, “um copo de ciência”. “Pint” é a medida britânica de cerca de 568 ml usada para servir cerveja nos pubs. Ou seja, a ideia é servir ciência no mesmo ambiente em que se serve cerveja — com sabor, conversa e descontração.

Uma pequena semente lançada no solo do interior do Estado de São Paulo, na cidade de São Carlos, tornou possível essa iniciativa se espalhar Brasil afora. Trazido da Inglaterra pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, o evento cresce ano após ano com a ideia de aproximar cientistas das comunidades locais, em ambientes descontraídos como bares, restaurantes, cafés e até praças públicas.

Hoje, mais de dois mil voluntários estão mobilizados para trazer ao palco a pesquisa científica que nasce e cresce em cada canto do país. E o festival, que completa 10 anos no Brasil, não poderia estar mais atual.

Segundo o coordenador nacional do Pint of Science Brasil, Eduardo Bessa, professor da Universidade de Brasília (UnB), biólogo, mestre em zoologia pela USP e doutor pela UNESP, o mundo vive um momento de intensas transformações:

“Além das acentuadas mudanças no clima, na temperatura e na vida no planeta, está se alterando também a forma como compreendemos o que é política, qual a ordem global do mundo, e temos nos questionado mais e mais sobre como funciona a ciência, a educação e as nossas universidades.”

Por isso, o tema do festival em 2025 é “Tempo de Mudanças”, em parceria com o Instituto Clima e Sociedade, que patrocina o evento. Segundo Bessa, o impacto das mudanças climáticas já não é uma ameaça futura — é uma realidade presente:

“Por muito tempo predominou aquele discurso de que a gente precisava fazer alguma coisa porque senão, no futuro, não teríamos os ursos polares e afetaríamos a vida dos nossos bisnetos. Mas ninguém fez nada. O problema é que, agora, a gente está sentindo na pele o que imaginávamos que aconteceria com os ursos polares e com os nossos bisnetos.”

Além de conhecer as pessoas que dedicam a vida à ciência, o público também poderá compreender o processo de criação do conhecimento científico e aprender, de forma ível, como distinguir evidência científica de opinião.

No Rio de Janeiro, cinco bares resolveram que já basta de conversa fiada de mesa de bar — agora é papo sério, com ciência, mas sem perder a espuma do chope. Durante os três dias de festival, cada um desses bares será invadido, pacificamente, por pesquisadores prontos para transformar dúvidas em diálogos e curiosidade em conhecimento.

A fórmula é simples: três encontros em cada bar, durante três noites (19, 20 e 21 de maio). Cada um dos eventos listados mais abaixo será o tema de um desses encontros. E olha que não estamos falando de palestras enfadonhas com PowerPoint monocromático — aqui o projetor é o copo, o palco é a mesa e o aplauso vem com risada, surpresa e reflexão.

Se estiver tremendo, talvez seja o copo. Mas também pode ser o impacto da realidade científica sacudindo o senso comum. Porque, para quem ainda acha que ciência é coisa de laboratório asséptico, basta sentar e pedir a próxima rodada: a verdade vem gelada, mas certeira.

Confira os bares participantes — e prepare o cérebro (e o fígado):

Bobô Bar – R. Manuela Barbosa, 45 – Méier
Brewteco Rosas – Av. Marechal Henrique Lott, 120 – Loja 101 – Barra da Tijuca
Boteco Colarinho – R. Nelson Mandela, 100 – Loja 127 – Botafogo
rufi.bar – Praça Santos Dumont, 106 – rooftop – Gávea
Brewteco Tijuca – Av. Maracanã, 782 – Vila Isabel

Veja abaixo os 15 temas dos encontros no Rio de Janeiro:

  1. Darwin explica, o grupo de família confunde
  2. Lidando com o fogo: como prevenir e combater incêndios florestais?
  3. Ecotoxicologia
  4. Educação financeira
  5. Por dentro dos realities: o que a ciência revela?
  6. Astrobiologia de boteco: vida além do copo (e da Terra)
  7. Aprendizado inteligente: IA como ferramenta para professores e alunos
  8. Cannabis medicinal – legislação e formas de uso medicinais
  9. Entre moléculas e sabores: a química dos ingredientes
  10. Mudanças climáticas – aspectos psicossociais e proteção solar
  11. Psicodélicos – a importância da expansão da consciência
  12. Desenvolvimento de novos remédios – da bancada à farmácia
  13. Ciência, carnaval e mulheres fortes: o que sai dessa mistura!!
  14. Do laboratório ao prato: insetos, impressoras 3D e o futuro da alimentação
  15. De planta proibida a tratamento promissor: cannabis na medicina moderna

A programação oficial por bar e por dia no Rio de Janeiro está disponível no seguinte sítio:

https://pintofscience.com.br/events/rio-de-janeiro

E, para conferir a programação nacional nas 169 cidades brasileiras, vá ao sítio abaixo:

https://pintofscience.com.br

Caso sua cidade ainda não participe, é possível inscrevê-la para a edição de 2026 — as instruções serão divulgadas no segundo semestre.

O Brasil é, de longe, o país com maior participação no festival mundial. Confira abaixo o número de cidades participantes em cada um dos 27 países:

Américas:

Argentina: 9 cidades
Brasil: 169 cidades
Equador: 3 cidades
México: 11 cidades
Estados Unidos: 16 cidades

África:

Quênia: 1 cidade

Ásia e Austrália:

Austrália: 12 cidades
Índia: 3 cidades
Laos: 1 cidade
Tailândia: 1 cidade

Europa:

Áustria: 6 cidades
Bélgica: 2 cidades
Croácia: 2 cidades
Dinamarca: 3 cidades
França: 61 cidades
Alemanha: 22 cidades
Hungria: 1 cidade
Irlanda: 10 cidades
Itália: 25 cidades
Países Baixos/Holanda: 10 cidades
Noruega: 5 cidades
Polônia: 1 cidade
Portugal: 10 cidades
Espanha: 75 cidades
Suécia: 8 cidades
Suíça: 12 cidades
Reino Unido: 42 cidades

O Pint of Science Brasil continua a ser um marco na divulgação científica, promovendo a troca de conhecimentos e inspirando futuras gerações a se interessarem por ciência e inovação.

Porque, no fim das contas, talvez seja ali, entre uma cerveja artesanal bem amarga e encorpada e outra mais leve e equilibrada, que a ciência reencontre seu público — e os neurônios, coitados, encontrem enfim um pouco de dignidade.

Saúde, saber e senso crítico. Que nunca faltem. E se faltar, pelo menos que não falte o gelo.

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