O presente artigo é um complemento necessário ao texto anterior, intitulado “Quando a vaidade vira risco: análise do comportamento de Eduardo Paes”, publicado no Diário do Rio. Para quem ainda não leu, o artigo pode ser ado no seguinte link:
/quando-a-vaidade-vira-risco-analise-do-comportamento-de-eduardo-paes/
Na ocasião, procurei demonstrar como determinados traços de comportamento do atual prefeito do Rio de Janeiro se aproximam — e muito — das descrições clínicas mais aceitas do chamado Transtorno de Personalidade Narcisista.
Recebi, desde então, inúmeros comentários de colegas e leitores atentos que, além de endossar as observações feitas, sugeriram que eu detalhasse melhor cada um dos itens citados, para tornar mais clara a identificação de tais comportamentos.
Atendendo a esse pedido, resolvi escrever o presente artigo, desdobrando e explicando um a um os sinais mais recorrentes desse transtorno — com o objetivo de facilitar a compreensão, tanto clínica quanto política, do que estamos testemunhando em nossa cidade.
Grandiosidade
Trata-se da sensação inflada e infundada da própria importância, talentos ou inteligência. Pessoas com esse traço costumam fantasiar sobre poder ilimitado, sucesso absoluto ou brilho pessoal incomparável. A imagem projetada para os outros é sempre grandiosa, ainda que os feitos concretos não sustentem tal autoimagem. É comum a crença de que são especiais e únicas, merecedoras de atenção e deferência constantes.
Necessidade excessiva de iração
O desejo de ser constantemente elogiado e reconhecido torna-se uma necessidade psicológica. A ausência de aplausos é sentida como rejeição. Críticas, por mais construtivas que sejam, são recebidas com hostilidade. A pessoa espera que todos ao seu redor validem sua superioridade — e quando isso não acontece, a frustração se converte em agressividade ou desprezo.
Falta de empatia
Há uma dificuldade profunda em se colocar no lugar do outro. As dores, necessidades ou experiências alheias são minimizadas ou ignoradas. Muitas vezes, os sentimentos dos outros são tratados como obstáculos ou meras formalidades. Isso se revela tanto em relações pessoais quanto em contextos profissionais ou institucionais.
Comportamento explorador
Outros são vistos como meios, nunca como fins. O relacionamento se baseia na utilidade: enquanto servir, a pessoa é valorizada; ao menor sinal de desacordo ou “inutilidade”, é descartada. Há uma tendência a manipular ou instrumentalizar relações para alcançar objetivos pessoais, mesmo que isso envolva romper laços ou desrespeitar normas éticas.
Arrogância e senso de superioridade
A postura de superioridade se manifesta no tom, na linguagem corporal, nas escolhas cotidianas. Há desprezo por quem é percebido como inferior e uma firme convicção de que as regras, limitações e críticas não se aplicam. Esse traço pode vir acompanhado de sarcasmo, desdém e atitudes que buscam reiteradamente afirmar poder e distinção.
Inveja e paranoia de ser invejado
Existe um sentimento constante de comparação com os outros. O sucesso alheio incomoda, e há uma suspeita quase obsessiva de que todos o invejam. Por outro lado, realizações modestas são supervalorizadas como provas de genialidade. A inveja funciona como um termômetro emocional permanente, guiando comportamentos e reações.
Falta de limites
A pessoa a a crer que tudo lhe é permitido. A sensação de ser especial vem acompanhada da ideia de que obstáculos são injustos, leis são negociáveis e que seus desejos devem prevalecer sobre quaisquer estruturas institucionais ou regras estabelecidas. Tudo gira em torno da própria vontade — como se ela fosse uma espécie de norma suprema.
Exigência de privilégios
Esse traço aparece como uma expectativa recorrente de receber tratamento especial, independentemente do contexto ou da lógica do ambiente. É comum que pessoas com esse perfil se sintam ofendidas quando não são tratadas com deferência, mesmo sem justificativa. A regra parece ser: “eu mereço porque sou eu”.
Exagero de conquistas não realizadas
A tendência à autoimagem grandiosa se reflete também na forma como se narra a própria trajetória. Feitos menores são inflados, projetos são vendidos como marcos históricos, e até intenções não concretizadas ganham status de revolução. A desconexão entre narrativa e realidade é alimentada constantemente.
Monopolização de conversas e desprezo pelo outro
Em interações sociais, o foco é quase sempre unilateral. A conversa gira em torno da própria pessoa, de suas opiniões, feitos e dores. Há pouca ou nenhuma escuta ativa. Quando o outro fala, é apenas tolerado — raramente ouvido. As relações humanas são tratadas como palcos para o brilho individual, e não como espaços de troca.
Dificuldade em lidar com o contraditório
Toda crítica é vista como ataque. Toda divergência é percebida como afronta pessoal. Em vez de lidar com o dissenso de maneira racional ou construtiva, a resposta vem em forma de agressividade, desprezo ou retaliação. O contraditório é intolerável, pois desafia a autoimagem de perfeição.
O que disseram os leitores: comentários que ampliam o debate
Após a publicação do artigo anterior, recebi diretamente mensagens de leitores que, além de reconhecerem nos exemplos citados os traços que descrevi, trouxeram observações complementares que merecem ser compartilhadas. Reproduzo abaixo algumas dessas manifestações, por entender que ajudam a aprofundar ainda mais a reflexão sobre o impacto que personalidades narcisistas podem ter na vida pública:
“Que análise BRILHANTE! Qualquer pessoa que minimamente tenha convivido com ele, sabe que é exatamente esse o perfil.”
“MUITO interessante e verdadeiro”
“É um típico narcisista mesmo, seu artigo foi cirúrgico”
“A crítica é dura, mas não leviana. Ao contrário, é construída com base em observação política experiente, o que confere credibilidade e peso à argumentação. A metáfora do ‘espelho’ é especialmente eficaz para ilustrar a desconexão entre a autopercepção de Paes e a realidade institucional do Rio de Janeiro. Análise contundente e muito bem fundamentada.”
“Antônio, creio que ele se enquadra perfeitamente nas características de narcisista. Imagino o que am os que lidam diretamente com ele se não se submeterem….”
“Parabéns pelo texto! Obrigada pelo envio. Lamentável que o comportamento do prefeito apresente traços de personalidade que merecem atenção. Sofremos como cidadãos e aposentados desrespeitados. Mas, permita-me escrever que boa parte do que ele fez (e faz) resulta da falta de ação do Legislativo. Ou seja, temos culpados pela criação do mundo da fantasia do prefeito. (Isso sem falar do desastre da istração do prefeito anterior.) Faz algum tempo que a CMRJ parece uma secretaria municipal à disposição do Prefeito. Projeto do Executivo é votado como ele quer e, para piorar, PL que desagrada não prospera. Vide o caso do PL do teto municipal que você rascunhou a sugestão de um texto. Enfim, carecemos de bons governantes e, principalmente, parlamentares atuantes no controle dos atos e ações do Executivo.”
Ao detalharmos cada uma das características do transtorno narcisista de personalidade, não buscamos rotular ou diagnosticar — até porque essa é tarefa clínica, não política. Mas compreender os sinais e seus reflexos na esfera pública nos ajuda a entender muito do que está acontecendo no município do Rio de Janeiro.
O espelho em que alguns se contemplam pode estar rachado — e a imagem refletida, distorcida. O perigo é quando essa ilusão a a comandar uma cidade inteira.
O presente artigo é, ao mesmo tempo, um convite à lucidez e um alerta ao eleitor. Porque a vaidade, quando alimentada pelo poder, pode se transformar num risco coletivo. E os traços de um transtorno, quando negados, tendem apenas a se agravar.
O narciso nunca assume culpa por nada!!A culpa ,por mais que esteja evidente para todos ,nunca é do narciso!!!Vai jogar no colo dos outros…assim como fazem seu amigo Lule,e fez seu amiguinho Cabral….
É estranho mas tudo isso no fundo ,no fundo é um RECALQUE visceral…Recalque por se achar um bost@,um incompetente,um traidor de seus próprios “princípios” iniciais….enfim…no fundo ,no fundo essas figuras sabem no íntimo q são um verdadeiro fracasso…de espírito!!!
PS Paes perdeu para as abstenções…não sei daonde vem essa falsa noção de “superioridade”
Grato pela informação complementar, Cristina. Sim, pode ser por aí. Um abraço. Antônio Sá
Eduardo Paes merece sim críticas. No entanto, é curioso o quanto o Diário do Rio está mais para “Diário do PL”, ou “Diário do Bolsonaro e puxa sacos”. Críticas a istração do estado por parte do aliado do ex presidente são inexistentes. O estado vive com problemas de infraestrutura e de segurança. Não vejo um texto por parte de algum dos colunistas. Fizeram uma verdadeira negociata com um cargo no TCE, tudo em nome da permanência do mesmo grupo nas próximas eleições. Críticas? Não vejo. Pior: Deram voz a um político ligado ao grupo que destruiu o Rio de Janeiro pra ele falar bobagem.
A real é que se fosse o Ramagem o prefeito do Rio e ele e sua trupe viessem com essa história de Guarda armada, seria elogiado pelo colunista como um grande humanista, líder, corajoso, com visão, entre outras coisas. Como foi o Paes, é narcisismo, loucura, safadeza.
Vão atrás do histórico do colunista: Ligado até a medula com o grupo de Crivella e Bolsonaro. Poisé, as críticas dele possuem um viés. Posa de ético e crítico. Não tem moral.
Prezado João, não sei de onde você tirou a minha vinculação ao Crivella e ao Bolsonaro. Não sou vinculado a políticos. Mas, tudo bem, pois esse tipo de raciocínio de nós contra eles já virou rotina em nosso país. Eu não entro nessa forma primária de discussão. Estou fora. Eu democraticamente critico a todos quando vejo algo errado, SEJA DE QUEM FOR. Vamos em frente. Obrigado por seus comentários. Um abraço. Antônio Sá
Quando da farra dos guardanapos ninguém queria mais saber dele, virou leproso.
Só a família maia deu guarida/partido. E o que ele fez? Traiu o velho. Saiu do partido quando ficou bem na fita. Tirou os cargos dos maia da prefeitura. Isolou a família e só mantém aquela inepta da filha pra constar.
O maior problema dele não é narcisismo ou vaidade.
É que o que ele fala não se escreve, e o que ele escreve não se confia.
O maior problema dele é a TRAIÇÃO. E na política pode tudo, menos ser um traidor.
Bem lembrado, Miranda. Um abraço. Antônio Sá
Esse foco na crítica ao Paes na semana que o Bacellar é anunciado como o candidato do grupo político do Cláudio Castro com o apadrinhamento do Bolsonaro é só uma coincidência?
Paes merece críticas, muitas. Mas estão caçando pelo em ovo já.
Cláudio Castro faz muito mal ao dia a dia do Carioca e não pesam a mão contra como fazem com o Paes, pelo contrário, am pano para ele e o grupo político dele como ninguém.
Enfim, as eleições já começaram. Cada um que use suas armas…Em muitos casos isso é literal. Na Baixada é assim que se elimina concorrentes da política.
Prezado Paulo, minhas críticas estão vinculadas ao inconstitucional PLC do Prefeito que quer criar uma força de segurança formada por contratados temporários sem concurso em detrimento dos guardas municipais que já podem ser armados. Nada a ver com campanha eleitoral. Leia meus artigos em sequência e confirme isso. Um abraço. Antônio Sá
Quarta matéria distorcendo os fatos sobre o mesmo assunto em menos de 3 dias? Isso é pago?
Vamos repetir o comentário…
Os mesmos que querem distribuir armas para qualquer despreparado e para CACs, que vemos diariamente na mídia envolvidos com milicianos, são esses que querem proibir guarda armada da prefeitura?
Criar uma NOVA guarda armada não desvaloriza a Guarda Municipal atual. Ou será que vamos misturar exército, PRF, PF, PM, P.Civil,…? Cada um tem seu papel.
Se são concursados,tem estabilidade.
A propósito, tendo um treinamento adequado, não seria melhor para os tais neoliberais que a guarda não fosse concursada?
Pura hipocrisia partidária que sempre busca a oposição pela oposição em nome do poder.
Quem sempre perde com isso é a cidade e seu povo.
Prezado Armando, leia meus artigos e o PLC. Não se está criando uma nova Guarda Municipal e sim contratando pessoas temporárias SEM CONCURSO para fazer trabalho de guarda municipal concursado. Um abraço. Antônio Sá