Dani Monteiro: O futuro é ancestral

A Floresta da Tijuca, um dos mais lindos cartões-postais do nosso Rio de Janeiro, é um exemplo poderoso de como a ancestralidade negra está enraizada na regeneração do nosso planeta

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Rio de Janeiro - Floresta da Tijuca - Foto: Alexandre Macieira|Riotur

Junho é mundialmente conhecido como mês do meio ambiente, você sabia? É o período em que refletimos com mais atenção sobre a preservação da natureza e a urgência de cuidarmos do planeta. Mas para quem vive nos centros urbanos, nas bordas da cidade, favelas e periferias, essa luta precisa fazer parte de nossas rotinas. Esse papo parece bem clichê e batido, mas preservar o meio ambiente é lutar, também, por ar puro, água limpa, moradia digna e justiça social. Como presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania, posso afirmar que isso tudo está conectado à necessidade de preservação da nossa memória e do nosso direito à vida. Neste ano, celebramos essa conexão com o lema que guia a nossa caminhada: o futuro é ancestral. Mais do que uma frase bonita, é um chamado à resistência e à reconstrução. Mas como?

A Floresta da Tijuca, um dos mais lindos cartões-postais do nosso Rio de Janeiro, é um exemplo poderoso de como a ancestralidade negra está enraizada na regeneração do nosso planeta. Vou contar parte de uma história que descobri fazendo trilha por lá: no século XIX, onze pessoas negras escravizadas foram responsáveis por reflorestar a região. Foram elas que, com as vidas marcadas pela violência da escravidão, reconstruíram o verde onde antes havia devastação. Durante décadas, essa história foi silenciada. Os louros e glórias ficaram só para o Major Archer. Vocês se surpreendem? Bem, eu não. A floresta que tanto iramos e que refresca toda a cidade teve seus verdadeiros protagonistas ignorados pela história. Sem ela, a temperatura na cidade do Rio de Janeiro poderia chegar a ser até 5°C mais quente.

Por isso, é com imensa alegria que celebramos a sanção da lei de nossa autoria, que garante a instalação de uma nova placa no Parque Nacional da Tijuca. Agora, os nomes de Maria, Constantino, Eleuthério, Leopoldo, Manoel, Matheus, Sabino, Macário, Clemente, Antônio e Francisco estarão gravados para sempre na entrada do centro de visitantes. Enfim, esses herois serão glorificados como devem. 

Essa conquista não é pequena, nem muito menos apenas simbólica. É reparação histórica, é memória viva, é justiça, mesmo que muito tardia. Parafraseando o samba da Mangueira: estamos contando a história que a história não conta! E vamos recontar o Brasil sob outra ótica. A ótica dos que sempre cuidaram da terra, mesmo quando lhes negavam absolutamente tudo, inclusive o básico. Negros, indígenas e povos tradicionais sempre foram os maiores defensores do meio ambiente e precisam ser reconhecidos. Não existe futuro possível sem estabelecermos o mínimo de justiça social. 

Fica aqui o convite. Neste sábado, 31 de maio, vamos realizar um ato que marca o início do mês do meio ambiente. A partir das 9h, no Parque Nacional da Tijuca, faremos a troca da placa em homenagem aos nossos herois. Teremos aula pública, apresentações artísticas, plantio simbólico de árvores e um almoço coletivo. Será uma celebração de vida, de memória e de esperança por um mundo melhor. Essa é nossa raiz mais profunda e vamos honrá-la. Venha com a gente viver esse momento histórico. Porque o futuro é ancestral e já começou.

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