Não é de hoje que o bairro da Glória, na Zona Sul do Rio, desperta no susto aos domingos. Por volta das 7h da manhã, enquanto muitos moradores ainda tentam aproveitar o descanso, alto-falantes já ecoam pela região com locutores entusiasmados — e barulhentos — anunciando mais uma corrida de rua. Esse cenário se repete com frequência e tem gerado um crescente desconforto na vizinhança, que se vê obrigada a acordar ao som de caixas potentes e pouca empatia.
Apesar de reconhecerem a importância do uso do espaço público para práticas esportivas, os moradores afirmam que há limites e que eles estão sendo ignorados. O incômodo maior é o volume abusivo do som, que extrapola os limites do Aterro do Flamengo e invade os apartamentos da Glória sem pedir licença. Para quem vive no bairro, o barulho tornou a rotina um desafio diário.
A insatisfação tomou as redes sociais no último final de semana. No Instagram, a página “Informe Gloriano”, que reúne mais de 16 mil seguidores, publicou um post sobre o barulho causado por um desses eventos matinais. O conteúdo gerou uma enxurrada de comentários — a maioria concordando com a reclamação.
“Participo de praticamente todas essas corridas e sempre me questiono sobre a necessidade desse som tão alto. Até pra gente que está lá presente é um grande incômodo. Não há necessidade alguma do som ser tão alto”, comentou uma internauta.
Outro morador relatou: “Eu que moro de fundos na Rua da Glória hoje acordei com a gritaria… como se já não bastassem as barracas atulhando a murada desde sábado à noite (vazias) e hoje sem mal deixar espaço pra ar entre uma e outra. E aí, Eduardo Paes? Quem mora aqui não consegue descer com o cachorro pra ear, almoçar num restaurante do bairro ou entrar e sair de casa sem pegar trânsito”.
A discussão sobre o barulho não é novidade
O debate sobre o barulho não é novo. Em dezembro de 2024, o Diário do Rio já havia publicado uma matéria abordando o tema, na qual moradores cobravam equilíbrio entre o direito ao lazer e o respeito ao descanso de quem vive no bairro. Desde então, nenhuma solução objetiva foi implementada para diminuir os impactos no sossego da região por parte da Prefeitura do Rio de Janeiro.
A crítica principal, no entanto, não é contra a realização dos eventos, mas contra a ausência de bom senso e mediação por parte das autoridades. “Vale lembrar que a Glória já recebe inúmeros eventos ao longo do ano — muitos com música, estruturas montadas e bloqueios de vias. A rotina dos moradores já é constantemente afetada. O que se pede, no mínimo, é respeito. É possível realizar eventos sem transformar o bairro num megafone”, pontuou a publicação do Informe Gloriano.
A exposição a ruídos elevados pode causar danos à saúde humana, como insônia, aumento do estresse, irritabilidade e até problemas cardiovasculares. Por isso, cabe aos organizadores dessas atividades e às autoridades competentes dialogar para encontrar uma solução que contemple tanto os praticantes de esportes quanto o bem-estar da vizinhança.
“Organizadores e autoridades precisam rever urgentemente esse modelo de evento que trata o bairro como palco e ignora seus moradores. Que a Prefeitura do Rio tome providências, imponha limites sonoros, horários mais razoáveis e exija o mínimo de civilidade de quem ocupa o espaço público”, finaliza o post.
De fato, virou um inferno ar na Glória.
Seja nas calçadas, ou nas ruas, está uma desordem por todo lado.